É um tal de crescer, conhecer o mundo, deixar as pessoas
dar o significado a aquela imensidão de objetos que antes eram desconhecidos
pra você, mas já existem e continuaram existindo independente da sua existe. É hora
de engatinhar, de andar, de balbuciar, de falar, de entrar pra escola, de
escrever, de morder o coleguinha, de bater no amigo, de pintar, de ler, de
saber, de aprender matemática, história, geografia, português. É hora também de
fazer ballet, futebol, inglês, italiano, porque quem sabe a língua materna
apenas não é alguém importante. Fazer natação porque é necessário saber nadar
pra não se afogar. Hora de ter muitos professores, de conhecer a física, a química,
a biologia, estudar e não para de estudar. De passar no vestibular de imediato
para não “ficar para trás”. É preciso estudar mais e mais, ler textos, artigos,
publicar, fazer pesquisa, tirar boas notas, não conversar, anotar o que se fala
em aula, estar atento, fazer estagio de 4,6, 12 horas por semana. Não se pode
esquecer do tempo pra sair, para os amigos, para a família, para o trabalho que
muitas vezes vai para a casa; para a faculdade, para o computador, para os
jogos, para as lutas, para a academia, porque é necessário ter um corpo como a mídia
impõe, porque ela nunca pediu, nunca discutiu com ninguém a formula da beleza e
o que seria essa perfeição que diz ser real. É arrumar um trabalho bom para ser
alguém na vida, e até hoje eu não entendi o que esse alguém significa. Você
precisa fazer farra, aproveitar a vida, mas com moderação. Precisa encontrar a
mulher/homem certa/o, que ainda não deram a formula certa, porque a que deram não
existe, ninguém encontra, então para mim, não é real. Casar, ter filhos, para
dar continuidade na família, trabalhar mais e mais para sustentar seus filhos,
dar uma boa vida, sendo essa caracterizada por uma escola boa, alimentação, casa,
carinho, amor, atenção, instrução. E assim mais tempo se foi. Com os filhos já
casados agora sim é a hora de aproveitar o dinheiro da aposentadoria, mesmo
velho, com dinheiro, sem energia e com o coração na mão da tamanha violência temporal
a qual a cada instante somos submetidos. É a violência do tempo, aonde temos
que correr e correr para no final nos perdemos no tempo com a morte, uma
corrida que não é bem feita, ela é atropelada pelos momentos mais maravilhoso
de nossa existência os quais não podemos aproveita-los em sua plenitude, pois
já nascemos atrasados. Quem disse que deveria ser nessa ordem? Quem disse que
precisamos entrar nessa corrida mundana? Quem é que dita as regras da sua vida
e como você a rege? Você acredita que é você mesmo? Com a mídia ditando o que
vestir, o que comer, qual roupa você deve ter, o que você deve ver, o que você
deve ler, como o seu corpo deve ser. Ou até mesmos seus pais e familiares,
regendo sua vida, os seus gostos, a sua vida conjugal, os lugares que você
frequenta, o que gosta de fazer. E eu pergunto, aonde nesse espaço de tempo,
nesse suspiro de existir você encontra um tempo para si? Para olhar para você, para
a sua subjetividade, suas emoções seus conflitos, para sua vida, e assim,
questionar o que você está vivendo e da forma que a está executando. Será que
realmente você vive de escolhas ou o mundo escolhe por você e te dá como
resposta a falsa idéia de ter o poder de decisão nas mãos, a famosa liberdade? Você é
escolhido, aqui nós vivemos o eterno retorno, o retorno a algo que já viveram.
O relógio continua a fazer o tic-tac, e você, vai fiar ai parado ou irá voltar
para a corrida?
Com amor,
O seu coração.
J.
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