terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A Bela Mascarada

Hoje coloquei minha máscara. Confesso que não foi a das mais bonitas, mas era a que eu tinha. Para aquele momento serviu. Muitos olharam, até elogiaram. Mal sabiam eles o que havia por trás. Em meio a feições tão fortes e de muita bravura, havia uma maquiagem borrada, boca seca e os rios percorriam meus olhos. Era tempo de me esvaziar, de me sentir no sentido mais radical do ser, mas como fazer isso se a falta doia tanto. Olhava no espelho e só via buracos. Buracos que a vida foi fazendo em mim ao longo do tempo e que eu sempre resisti em tampar. As vezes não só com as minhas máscaras, mas com a minha armadura. Ela foi usada tantas e tantas vezes. Temos muita afinidade, mas não sei como começou, onde foi que nos encontramos pela primeira vez. Talvez no rio dos meus olhos, ou naquela máscara da qual me seduzi e quando vi não conseguia mais tirá-la. Desapegar-se de si. Ou dela. Não sei mais dizer, e confesso que é desesperador, mas ao mesmo tempo libertador. Parece que mesmo se as máscaras e armaduras não existirem eu continuava de pé e não iria cair. Que consiguia sustentar um outro reflexo. Na verdade destruí o espelho, esse reflexo não me mostrava quem eu era, pois só havia me visto com trajes. A verdade estava ali escancarada, doesse o que doer, mas eu estava ali. Um nada, mas ao mesmo tempo tudo pra mim. E isso bastava. A certeza dentro de mim que era preciso caminhar mais leve, me desprender dessas barreiras que fiz no meu percurso que sempre foram um peso a mais. E quão penoso foi esse caminho. Sempre olhei os cavaleiros e me perguntava para que tanta armadura para as batalhas. Elas os deixavam mais lentos. Depois entendi: era proteção. Eu estava tentando ficar protegida, não daquela batalha com outros inimigos. Era a batalha comigo mesma. O barulho da armadura caindo era aliviador, da máscara se desfazendo em meu contorno e aparecendo o meu semblante. Enfim respirei, e me senti livre. Viva.

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